sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Algumas proposições sobre proposições

       Na proposição manifesta-se a transcendência da linguagem humana, pois é nesse nível que ela ultrapassa a simples perspectiva de pura significação para tentar atingir as coisas em si mesmas... A essência da proposição não está em seus termos (que são apenas símbolos), mas no próprio "ato da composição", que seria um "estado de alma" 
                              (Oliveira, Manfredo de - A reviravolta linguístico pragmática na filosofia contemporânea, 3 ed)

       Uma proposição, como um quadro, pode dizer um estado das coisas. É um “quadro” das coisas. Supõe-se que a proposição (o quadro) tenha uma estrutura comum com o que representa. Isso não diferiria da proposta de Platão no Crátilo, de que existiria uma unidade indiferenciada entre o "logos" e o "on". Na função designativa das palavras encontra-se implícito que a estrutura da proposição tenha algo em comum com o que ele representa. Portanto existe Platão em Wittgenstein, com a diferença de que Wittgenstein diz que são os fatos e não as coisas que são "afiguradas". E por ser fato, implica uma relação entre as coisas numa forma logicamente arranjada, refletida essa relação lógica no fato e na proposição.
        A meu ver, Wittgenstein apresenta-se como "outra pessoa" na sua segunda fase. Wittgenstein abandonou uma especie de núcleo duro herdado/baseado em Frege, Whitehead Carnap e Russel, enfim, o círculo de Viena. Wittgenstein abandonou a questão das proposições, para se tornar mais fluído ao propor os jogos de linguagem, interessando por formas de expressões linguísticas não-proposicionais cujo sentido seria a utilidade (uso) dentro de um contexto social.
      Assim existem duas questões a serem abordadas pela filosofia da linguagem: a questão das asserções proposicionais e a questão das asserções não-proposicionaisQuanto às proposicionais parece que Witigenstein esgotou o tema no "tractatus" ao afirmar que "sobre o que não se pode falar, deve-se calar"; logo depois, nas "investigações filosóficas" dedicou-se às questões não-proposicionais, investingando a linguagem, como se o seu sentido fosse o uso, tendo um enfoque mais social no uso da linguagem, não mais focado na questão "quase-metafísica" das proposições.

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