domingo, 1 de dezembro de 2013

“O físico e a filosofia” - decálogo do físico, segundo Mario Bunge

FÍSICA E FILOSOFIA

“O físico e a filosofia” - decálogo do físico
“A natureza deve ser considerada como um todo, mas deve ser estudada em detalhe.” (Mário Bunge)
Mario Bunge é um filósofo da ciência e físico argentino. É conhecido por expressar publicamente sua posição contra as pseudociências, entre as quais inclui a psicanálise, e a manifestar críticas contra correntes filosóficas como o feminismo filosófico. Ainda que a concepção de ciência elaborada por Bunge dê importância aos processos da investigação científica na história, a sua orientação está principalmente dirigida para a análise formal dos processos históricos, e assim ele se afastaria da questão dos aspectos históricos, psicológicos e sociais própria dos enfoques específicos dados por Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Bunge trabalha atualmente como professor de lógica e metafísica na McGill University no Canadá e é um intelectual proficuo, já tendo escrito mais de quatrocentos artigos e oitenta livros, entre estes “Physics and Philosophy” – Física e Filosofia.
“Física e Filosofia” abrange alguns dos problemas típicos que atraíram a a atenção quer de filósofos, quer de físicos. Considerando-se que a Física sempre esteve associada à Filosofia Natural desde a antiguidade até tempos mais recentes, pode-se considerar que a filosofia da Física seja a mais antiga disciplina filosófica da história. Desde os pré-socráticos até Eistein e Ensenberg, não houve grande físico que não sofresse o fascinio e não se sentisse motivado pela filosofia. De Aristóteles até Russel, não houve grande filósofo que não tivesse meditado sobre a física. A física teria então se tornado o paradigma da ciência e o principal provedor de materiais para elaboração filosófica.
Segundo Bunge, o físico contemporâneo, não importando quão sofisticado e crítico ele possa ser em questões técnicas, mantém de forma dogmática o que se pode chamar de “Credo do Físico Inocente”. No capítulo primeiro - intitulado o físico e a filosofia - do livro Física e Filosofia, Bunge descreve esse credo na forma de um decálogo. Bunge analisa, critica e refuta esse decálogo, reflexo do credo, que ele considera como a filosofia padrão da física.
Os principais dogmas, e as críticas de Bunge seguem conforme o decálogo:
1)     A observação é a fonte e a preocupação do conhecimento físico.
Bungue comenta que o primeiro postulado, o qual converteria a observação na fonte e no objeto do conhecimento físico, é em parte verdadeiro. Não haveria dúvida de que a observação forneceria algum conhecimento rudimentar. Mas até mesmo o conhecimento comum iria muito além da observação quando postula a existência de entidades inobserváveis, como o interior de um corpo sólido e as ondas de rádio. E a física iria ainda mais longe inventando idéias que ela possivelmente não poderia extrair da experiência, como o conceito de elétron. Em resumo, seria falso que a observação seria a nascente da cada item do conhecimento físico.
2)     Não há mais realidade do que o conjunto de experiências humanas.
Esse axioma  prescindiria do conceito de realidade, segundo Bunge. No mínimo tentaria colocar a realidade entre parênteses. Até a era do operacionalismo, todo físico pensava estar manipulando coisas reais ou tendo idéias a respeito destas. É o que ele faz quando trabalha, não quando filosofa. Sem dúvida a física não exclui o conceito de realidade, mas o restringe ao nível físico, deixando às outras ciências a tarefa de investigar outros níveis. Embora experiências de vários tipos sejam necessárias para comprovar nossas idéias físicas, elas não constituem o referente destas. O referente pretendido de qualquer idéia física é a coisa real. Se acontecer que esta coisa particular não seja real, tanto pior para ela, segundo Bunge.
3)     As hipóteses e teorias da fisica não passam de experiência condensada, sínteses indutivas de itens experienciais.
Bunge argumenta que é verdade que muitos enunciados gerais são sínteses indutivas ou sumários de dados empíricos. Mas é falso que toda a idéiafísica geral seja formada por indução a partir de experiências individuais e observações. Quase todas as fórmulas da física teórica conteriam conceitos teóricos que se acham afastados da experiência imediata e acabam sugerindo novas observações e experimentos.
4)     As teorias físicas não são criadas, mas descobertas: elas podem ser discernidas em conjuntos de dados empíricos, como em tabelas de laboratório. A especulação e a invenção quase não desempenham papel algum na física.
A falsidade dessa tese, para Bunge, seguiria a falsidade do postulado três. Se as teorias são sínteses indutivas, então elas não são criadas, mas formadas por aglomeração de partículares empíricos. Mas, segundo Bunge, nenhuma teoria física jamais resultou da contemplação das coisas ou mesmo dos dados empíricos – toda teoria física tem sido a culminação de um processo criativo que ultrapassa de muito os dadosà mão.Isso é assim porque toda teoria contém conceitos quenão ocorrem nos enunciados experimentais pertinentes a ela, mas também porque, fornecido um conjunto de dados, há um número ilimitado de teorias que pode responder por eles. Bunge explica que as teorias não são fotografias, elas não se assemelhariam a seus referente, mas seriam construções simbólicas erigidas em cada época com a ajuda dos conceitos disponíveis na época.
5)     O objetivo das hipóteses e teorias é sistematizar uma parte do repertório crescente da experiência humana e prever possíveis experiências novas. Em caso algum se deve querer explicar a realidade; e muito menos tentar apreender elementos essenciais.
Bunge diz que esse postulado é relativo à meta das idéias da física, que seria unilateral e pressuporia que houvesse apenas uma única meta. A fim de explanar algo, cumpre deduzí-lo, e a dedução exige premissas que vão além daquilo que está sendo explicado e tais premissas são outras tantas hipóteses contenedoras de conceitos teóricos. Há propriedades essenciais ou básicas, como massa e carga, que geram várias outras propriedades e há igualmente padrões básicos ou essenciais que envolvem algumas daquelas propriedades originais, como num construto em forma de rede.
6)     As hipóteses e teorias que incluem conceitos que não provenham da observação, como os do elétron e do campo, não têm conteúdo físico: são meras pontes matemáticas em meio a observações reais ou possíveis. Esses conceitos transempíricos, portanto, não se referem a objetos reais, porém imperceptíveis, sendo apenas auxiliares desprovidos de referência.
Bunge nos fala que esse postulado é comum ao convencionalismo, pragmatismo e operacionalismo e que se adotado, a maioria dos referentes da teoria física seriam postos de lado e ficaríamos apenas com cálculos vazios. Se uma teoria não versa sobre uma classe de sistemas físicos, então ela não se qualificaria como uma teoria física.
7)     As hipóteses e teorias da física não são mais ou menos verdadeiras ou adequadas: posto que correspondem a intens que existem não independentemente, são apenas modos mais ou menos simples e efetivos de sistematizar  e enriquecer nossa experiência mais do que componentes de um retrato do mundo.
De acordo com Bunge, esse conceito procuraria eliminar o conceito de verdade (retrato do mundo), e decorreria das teses convencionalistas. Tal doutrina não se enquadraria na prática do físico. Tanto o físico teórico como o experimental empregam o conceito de verdade.
8)     Cada conceito importante tem que ser definido. Por conseguinte, todo discurso bem organizado deve começar pela definição de seus termos chave.
Bunge considera esse postulado um absurdo. Segundo Bunge, todo conceito, se definido, é construído de tal maneira em termos de outros conceitos, que alguns têm de permanecer não definidos. Uma teoria bem edificada não começaria por um maço de definições mas, antes, com uma lista de conceitos não definidos ou primitivos. Daí que, segundo Bunge, seria errôneo esses postulado, ao qual, tantos manuais de ensino tentariam ajustar-se.
9)     O que atribui significado é a definição: um símbolo não definido não possui significado físico e, portanto, só pode ocorrer em física como auxiliar.
Para Bunge, o que atribui um significado a um símbolo físico básico não seria uma definição, mas toda uma teoria com três ingredientes: os pressupostos físicos, semânticos e matemáticos. Caso se verificasse que uma é falsa, seus elementos primitivos ainda conservariam um significado definido, mas se tornariam inúteis (logicamente válida mas falsa).
10)   Um símbolo adquire significado físico através de uma definição operacional. Tudo o que não seja definido em termos de possíveis operações empíricas é do ponto de vista físico algo sem sentido e deve, portanto, ser abandonado.
Seja o símbolo “E”. Na física esse símbolo designa um conceito que seria a intensidade do campo elétrico. Na verdade pode acontecer que não existam campos eletromagnéticos, pois esse símbolo origina-se de uma hipotese, assim como o conceito de elétron. Esse último dogma sustentaria que “E” adquire um significado físico somente quando se prescreve um procedimento para medir valores de E. Mas isso seria impossível, segundo Bunge, pois as mensurações que possibilitam operações não atribuem significados, apenas os pressupõe e além disso, as medidas do valor “E” são sempre indiretas. A crença de que existe uma definição operacional, segundo Bunge, é uma confusão elementar entre definir (uma operação puramente conceitual, além disso uma operação que não ocorre aos conceitos básicos) e medir (uma operação que é não só empírica, mas também conceitual)
 Assim encerra-se a crítica de Bunge ao que ele chama de “Credo Físico Inocente”.  Bunge não revela a fonte do decálogo que esse credo origina, e conclui que na extensão em que sua crítica se justifica, a filosofia feita de um modo explícito poderia ser útil para levantar algo da cerração que paira sobre a física.
Segundo Bunge, axiomatizar um teoria a conduz à irrefutabilidade e à estética e que a filosofia auxiliaria nesse trabalho de aximatização. A leitura de filósofos imaginativos poderia sugerir aos físicos novas idéias; o estudo da lógica elevaria seus padrões de rigor e clareza; o hábito das análises semânticas o ajudaria para descubrir os genuínos referentes de suas teorias, e o amor à nitidez lógica e à clareza semântica haveria de leválo a preferir um formato axiomático para suas teorias.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Percebe e transcrever

A ciência percebe e transcreve as leis da natureza.

"O essencialismo metodológico", isto é, a teoria de que o alvo das ciências é revelar essências e descrevê-las por meio de definições, pode ser melhor compreendido quando contrastado com seu oposto: o nominalismo metodológico" (Karl Popper)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Anarquia

Com a racionalidade individual domada surge a racionalidade coletiva, e a possibilidade de uma anarquia.

domingo, 17 de novembro de 2013

Tampões

Pré-Antiguidade: x-mitologia
Antiguidade: razão-filosofia
Medievalidade: razão/fé-religião
Modernidade: razão-ciência
Pós pós-modernidade: x-x

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A questão da obrigação, segundo Dwight Furrow

Síntese do capitulo 04 do Livro "Ética, Conceitos-chave em Filosofia", de Dwight Furrow, a ser apresentado na cadeira de Ética Geral I da Faculdade de Filosofia do IDC. http://prezi.com/jk2mqpvgpsk4/a-obrigacao-segundo-dwight-furrow/