sábado, 21 de abril de 2012

Portas

Existem portas que levam à coisa em si, mas ultrapassando essas aberturas não temos instrumentos que nos guiem, assim precisamos de aliados habitantes da coisa em si, para nos proteger, e nos guiar. Daí exige-se um retorno à mitologia. Nietszche? Pós pós-modernidade: mitologia e a coisa em si abertos ao domínio privado.

sábado, 7 de abril de 2012

Mixar


Cena onírica ocorrida à noite sobre um monolito lunar, num ambiente quente e fumacento.
Um monstro lento, meio touro, meio bode, desponta reptílico à frente da fumaça. Líder natural, corcunda intelectual, senta à uma mesa surreal e escreve sobre a natureza dos seres habitantes de um universo sob o qual pretende sempre dominar.
Irônico e esnobe fitando papiros, fala a alguém superior a si (que não encontra) com ódio absoluto e voz máscula de rouquidão, mixando e deturpando o som natural.
-Meu nome é Mixar e minha micção é mijar...
-Meu nome é Mixar e minha micção é mijar!!!
-Meu nome é Mixooor e minha micsom é mijôôôr!!!
Risos de  vários monstros menores no tamanho e na hierarquia. Vassalos temerosos, presas frágeis, que tornam-se fortes, unos e ágeis pela multiplicidade.
-Ahahahaha!
-Ahahahahahahaha!
Todos eles masturbam-se com ironia e urinam vapor na grande rocha escarnecendo dum ser humano triste, fraco e nu caído no chão rugoso monolítico. Esse ser é a essência do filósofo ou do filosofar estirada num mundo conturbado, confundido pela relatividade, complexidade e excesso de informação descartável.
O monstro graúdo todo torto depois de concluir algo finalmente fitou os olhos da essência da filosofia na forma do ser humano diminuto prostrado e voltou a falar mais grave, lenta, odiosa e compassadamente.
-Desiste seu bosta!
-Des-iiis-te seum bôôôs-ta!!!
Batidas fortes em portas, paredes, tiros e risos agressivos. O ser humano levanta-se e olha para aquele grupo exótico barra-pesada.
-O que é desistir? Não sei o que é isso? Não fui programado para saber.
Os monstros ficaram pasmos, parados. E sem voltar as costas, de olhos arregalados, bocas abertas, retrocederam em silêncio. Entraram conformes e quietos, sempre de costas, em buracos ocultos nas rochas, restando no lugar da turba monstruosa a secura de um chiqueiro tórrido.
O ser humano nu levanta-se e recolhe do local uma planta viva, de folhas compridas e um verde escuro, coberta de escremento seco.